Voltar no tempo: registro documental da Frrrkcon 000.1

Faz algum tempo que tenho esses vídeos da Frrrkcon 000.1 guardados aqui no arquivo. Confesso que os vi poucas vezes e nunca inteiros, até o presente momento, era uma memória que eu não tinha muita condição emocional para ficar vendo e revendo. Não era uma memória boa e falarei mais adiante sobre isso . Também é bom avisar, que não são imagens de muita qualidade, tudo foi feito de modo bastante limitado e precário.

Pensava comigo que em algum momento esses vídeos poderiam ser usados para algum outro documentário maior sobre a história da modificação corporal no Brasil, mas que muito provavelmente eu não estaria mais nesse mundo pra ver (o que não seria um problema, se ao menos eu tivesse a certeza de que esse material teria alguma serventia no futuro). E como saberiam que esse material existe se eu não mostrá-lo? E quem está preocupado historicamente com a modificação corporal no Brasil? Preocupado ao ponto de colocar a mão na massa e produzir, quem? Pensando nessas perguntas que de antemão eu já sei a resposta, resolvi fazer uma edição bastante simples, com softwares básicos e toda minha limitação de conhecimento, apenas para não perdermos o registro. Fiz, pois considero importante que se tenha registros do que construímos, do que lutamos, do que tentamos fazer para a comunidade da modificação corporal brasileira. Embora não fosse uma memória boa para mim, embora não tenha sido uma boa experiência para mim, é preciso ter um noção e um entendimento coletivo quando se trata de construções históricas. E quando falo em construções históricas, não estou propondo e nem querendo falar sobre grandiosidade alguma, mas sim de um evento que tem sua relevância e que aconteceu em determinado espaço e tempo.

Depois de oito anos consigo falar melhor sobre a Frrrkcon 000.1. Confesso que hoje não a tenho mais como uma memória ruim e tão pouco uma má experiência, no sentido de que não tenha tido validade alguma. Tudo aquilo precisou existir para que eu pudesse aprender, melhorar e buscar todo dia melhorar um pouco mais seja como profissional, seja como gente. Depois de oito anos consigo entender que sem a Frrrkcon 000.1 um monte de outras ações não teriam acontecido, eu não teria conhecido tanta gente, eu não teria aprendido mais sobre mim e sobre a comunidade da modificação corporal do Brasil, eu não seria quem eu sou agora.

Quando eu digo que a Frrrkcon foi por algum tempo uma má lembrança, é porque de fato foi e muito. Mas aprender consiste também em erro e na aspereza, dureza e na dor. Veja, em janeiro de dois mil e oito foi o ano que perdi meu pai e isso mudou a forma que eu me inseria no mundo. Na sequência comecei a trabalhar com o Luciano Iritsu na Frrrkcon, o que sem dúvida alguma foi muito importante para me segurar. Eu e Lu fizemos um grande investimento no evento, não no sentido capital porque éramos dois quebrados de grana, mas no sentido da confiança e expectativa. A gente tinha certeza que seria algo extraordinário e que moveria muita gente. Quando a imprensa começou a ficar em cima para saber o que estava acontecendo, acreditamos mais ainda que estávamos no caminho certo. Se até eles estavam interessados, imagine só quem era do meio. Pois bem, daí a decepção.

Ao fim do evento adoeci fisicamente por decepção e vergonha, achei tudo um grande fiasco e fracasso. Fiquei com dívidas por muito tempo depois, pois tudo foi feito com a grana que a gente não tinha. E apesar de ter havido uma segunda edição, eu já estava mais como um suporte para o Lu, do que qualquer outra coisa. Não acreditava mais em nada daquilo.

Através da Frrrkcon 000.1, com seus incontáveis erros e também incontáveis acertos, eu sei hoje que eu e o Luciano fizemos algo positivo para a nossa história. Fomos muito inocentes e audaciosos, mas fizemos e obviamente que nada disso sozinhos, teve muita gente por trás ajudando de toda possível. Lembro que estava a mais de 24 horas sem comer e a minha amiga Aline Torchia me levou para um posto de gasolina na Henrique Schauman e eu tomei um Guaraviton e comi uma batata Ruffles e conto isso agora, não para fazer drama ou me vitimizar, mas para mostrar que os esforços e a quantidade de trabalho que envolvem a elaboração de um evento. Sei que é fácil ficar sentado no sofá  e dizendo que tudo não presta, que tudo é muito ruim, que tudo poderia ser melhor, mas acredite, tentamos o melhor ao máximo e ainda assim não foi o suficiente. Acontece.

Hoje, oito anos depois, faço questão de dizer que a amizade com o Lu segue firme e forte. Fizemos tantas coisas lindas e especiais depois disso que eu não saberia contar. Além dele, um monte de outras relações lindas aconteceram e se construíram através das nossas cabeçadas com a Frrrkcon. Vejo essas imagens hoje com carinho, registros de uma juventude que vai ficando para trás, mas que precisou existir para que pudéssemos caminhar para frente e para cima… Agradeço de todo coração para todas as pessoas que colaboraram direta ou indiretamente com tudo isso.

T.

 

 

 

 

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