Entrevista sobre suspensão corporal

Curso: Jornalismo
Universidade: Centro Universitário do Maringá

_______________________________________________________________________

 

  1. Fica ansioso alguns dias antes da suspensão?
Fico bastante. Principalmente na véspera. Fico pensando se meu corpo está preparado para a experiência, se vou conseguir fazer, se a dor será menor ou maior, se vou cair ou se vou sair de mim…

 

 2. Existe algum cuidado específico com a alimentação/bebidas?
Eu acho que deveria. Sou vegano e desde que comecei a me suspender já era vegetariano. Caso não, cortaria a carne da dieta ao menos um mês antes. Muitas toxinas e energias mortas, ruins…
Procuro não consumir álcool nos dias antes de me suspender.
Acredito que quando mais “limpo” o meu corpo estiver, mais poderei explorar da suspensão.
Sempre que me pedem dicas, são essas que eu dou. Além de dormir bem na semana que antecede.

 

   3. Conversei com outras pessoas sobre o assunto e eles comentaram que a meditação é importante, concorda? Por quê?
Não sei, não faço meditação ainda. Mas acho que é importante entrar em contato consigo. Quanto mais profundo o mergulho em si, mais interessante tudo se torna.

 

 4. Gostaria que você descrevesse quais são as sensações quando está suspenso. Como se sente fisicamente? E emocionalmente?  Inicialmente dolorido, mas que aos poucos vai desaparecendo a dor e um novo estado físico surge.
Eis que surge a sensação de liberdade, que é absurda, mágica, eufórica… Potente, há uma sensação de potência sobre humana.
Emocionalmente falando, depende… Fiz algumas que quis muito chorar por tocarem partes muito particulares e íntimas da minha vida… Fiz outras que chorei de fato…
Tenho chorado bastante no final da suspensão e nos dias depois com as lembranças…
Isso acontece por eu utilizar a suspensão como uma ferramenta para o meu trabalho de performance. Então quase sempre está embutida de muitos significados… E isso é transformador.

 

   5. Tem algo que se assemelha ao prazer dessa prática? Por quê?
Há o prazer em conseguir realizar. Há o prazer de vencer medos e dores…
E tem a questão física, adrenalina, endorfina, etc, etc, que é uma cachoeira de prazeres…

 

 6.  No que pensa quando está suspenso?
Eu tenho buscado abstrair o pensamento, que é mais complexo do que pensar, que é tão automático.
Desligar o pensamento ou se concentrar tanto na ação ao ponto de “apagar”, tem me interessado mais. Nas primeiras experiência eu pensava que meu corpo iria partir ao meio. Depois em algumas performances eu pensava em concluir a ação. Agora tudo mudou…

 

   7. Consegue descrever a reação das pessoas que estão vendo ou participando da “cena”?
Sei pelo que ouço dos outros. Na hora a minha relação com o exterior é bem baixa. Quero dizer que vejo e ouço quase nada. Quero me desligar cada vez mais.
Mas tem de tudo, reações de nojo, de dó, de amor, de emoção, de admiração…
Como as minhas últimas suspensões estiveram dentro de um contexto artístico, a reação vai além de ver unicamente um corpo suspenso. Tem casos de que há uma demora pra entender que estou preso por ganchos e só. Falando especificamente do ao vivo.
As reações de quem consome unicamente registros, são as coisas mais descabidas e desfundamentadas e quase sempre sem validade alguma.

 8.   Nesse documetário: <http://www.youtube.com/watch?v=z5TJXCG_IXE>  – minutagem: 6’40” – 6’48” –  você comenta: “O sangue desperta muitas emoções e aflições. O Sangue é muito forte”. Quais as          emoções e aflições que o sangue desperta em você? 
Eu amo o sangue, me emociona e me fascina. Tem uma poesia que pulsa vida.
Ao mesmo tempo nos fazendo pensar na morte. Gosto da cor, do cheiro, da textura…
O sangue é matéria prima para os meus trabalhos. De fato o é.

 

   9. Na sua opinião, a prática da suspensão pode ser considera arte? Por quê?
Sim, pode ser arte. Deixando claro que nem toda prática de suspensão tenha que ser enquadrada como arte. A maior incidência inclusive não é.
Pretendo pesquisar isso em meu mestrado e poderei justificar melhor daqui uns anos. Tenho um longo caminho de pesquisa e estudos pra aprender mais sobre a suspensão. Mas de antemão, cabe dizer que alguns artistas desde os anos 70 estão utilizando a suspensão em suas obras. Então não é a minha opinião quem diz, mas a história da arte que nos traz esse dado.

 

 10.  Que tipo de reflexão você encontra em performances de suspensão corporal?
As mais diversas, reflexões sobre os limites do corpo, críticas políticas, culturais, sociais… A mistura de corpo e máquina, assim como do retorno à natureza. Há tantas coisas que surgem…

 

   11. Durante anos a suspensão foi realizada por algumas culturas como rito de passagem, atualmente a prática está em Freak Show’s. Acredita que esse seja uma forma para a      divulgação da suspensão como arte e contracultura/contestação social? Por quê?
Atualmente a prática está também em Freak Shows mas em uma porcentagem bem pequena quando comparamos com as centenas de pessoas que se suspendem por outros motivos.  No Brasil mesmo não há artistas realizando freak shows atualmente como tivemos em anos passados, a exemplo do Freak Garcia. E sim é uma das possibilidades de divulgação da prática, mas visto a % baixa, o alcance é igualmente pequeno. Não acho a suspensão no freak show entre num campo artístico e de contestação social tão pouco, mas como contracultura sim. Acho que dentro da performance art, vídeo arte, dança e da instalação (performática) a suspensão alcança esse status de arte e igualmente o de contestação.
A maioria das pessoas que se suspendem querem testar limites, querem se divertir, querem brincar (sem desmerecer a seriedade dos profissionais que cuidam da suspensão) e é isso.

Deixe um comentário